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Literárea
Literárea

EU me contradigo?

 

 

                                  1.

 

 

EU sou o bom aluno que odeia aulas

EU sou a iconoclasta com bons modos

EU sou o poeta que se incomoda com as

                                                  palavras

EU sou o escritor que prefere música

 

                          EU desagrado a editores e literatos

 

EU sou o músico que prefere o silêncio

EU sou a autora que detesta autógrafos

EU sou o bardo que só lê romances

EU sou o poeta boêmio que em casa

                          sábado à noite  lê Rimbaud

 

                          EU desagrado a autores e leitores

 

EU sou o rebelde que não passa de nerd

EU sou a nerd que veste jeans e botina

EU sou o ateu que ouve heavy metal satânico

EU sou o metaleiro que ouve acid jazz

 

                           EU irrito porras-loucas e caretas

 

EU sou o erudito que odeia acadêmicos

EU sou o poeta marginal que faz mestrado

EU sou a agitadora cultural que detesta

                                                 grupos artísticos

EU sou o apresentador de auditório que

                                              dispensa a plateia

 

                            EU desagrado a apocalípticos e integrados

 

EU sou a libertina que prefere a solidão

EU sou o sádico que nutre amor platônico

EU sou o moralista que é suspeito de ato

                                                      obsceno

EU sou a sexóloga que vive em abstinência

                                                     conjugal

 

                             EU incomodo a pervertidos e puritanos

 

 

EU sou o adepto do sexo livre que é muito

                                                 bem casado

EU sou a viciada que trabalha em campanha

                                               contra as drogas

EU sou a vegetariana que freqüenta churrascaria

                                                       com o noivo

EU sou a política xenófoba que dorme com

                                                       um imigrante

 

                              EU desagrado a gentios e judeus

 

EU sou o empreendedor liberal que é funcionário

                                                                      público

EU sou a anarquista que estuda em universidade

                                                                 estatal

EU sou a socialista que detesta o coletivo

EU sou o comunista que tem ações na Bolsa

 

                              EU desagrado a liberais e anarquistas

 

 

 

                                    2.

 

 

EU sou o materialista marxista que frequenta a

                                                juventude católica

EU sou o sindicalista que toma uísque com o

                                                              patrão

EU sou a proletária que vota nas Elites

EU sou o republicano que adora casamentos

                                                da Nobreza

 

                             EU desagrado a Direitas e Esquerdas

 

EU sou o líder político que odeia multidões

EU sou o deputado que representa as próprias

                                                           firmas

EU sou o ficha-limpa que cobra propina

EU sou o político que não faz promessas

 

                              EU irrito a situação e a oposição

 

EU sou o pessimista que dá lição de moral

EU sou o paranóico que adora filme de terror

EU sou o budista que adora uma vida de agito

EU sou a estressada que é viciada em meditação

 

                              EU perturbo boêmios e quietistas

 

EU sou a missionária que duvida da Eternidade

EU sou a revolucionária que duvida do Proletariado

EU sou o fiscal da Receita que sonega impostos

EU sou o bispo que abençoa as notas de cem

 

                               EU desagrado a cleros e pelegos

 

EU sou o altruísta que nada tem de piedoso

EU sou a religiosa que nada tem de crédula

EU sou o beato que afaga um púbis infantil

Eu sou a médica piedosa que pratica abortos

 

                            EU irrito católicos e protestantes

 

EU sou o pacifista que estuda as guerras

                                              civis e mundiais

EU sou a oficial que casou com um terrorista

EU sou o assassino que ama a vida

EU sou a doméstica que vive na porta da rua

 

                             EU desagrado a gregos e persas

 

EU sou o policial que negocia com traficante

EU sou o delegado que comete crime inafiançável

EU sou a juíza que desconhece o verbete ‘Justiça

EU sou o motorista que desconhece o trânsito

 

                            EU ofendo santos e pecadores

 

 

                                   3.

 

EU sou o vampiro juvenil que freqüenta a praia

EU sou o solitário que freqüenta shoppings

EU sou a adolescente que se veste igual vovó

EU sou o vovô com camiseta e bermuda juvenil

 

                             EU desagrado a teens e aposentados

 

EU sou o machista que lê poesia lírica

                                                        feminina

EU sou o marido exemplar que adora desfilar

                                                  na parada gay

EU sou a feminista que esqueceu que é fêmea

EU sou o homofóbico que comprou a revista

                                                    da transsexual

 

                             EU confundo gêneros e transgêneros

 

EU sou a vanguardista que ouve bandas

                                                              folclóricas

EU sou o saudosista que ouve rock psicodélico

                                                                em MP4

EU sou a hippie pagã que dorme na escadaria

                                                            da igreja

EU sou o nerd digital que adora RPG medieval

 

                                                               

                            EU ofendo a futuristas e passadistas

 

EU sou a ecologista que nunca dá carona

EU sou a avarenta que distribui presentes

EU sou o contador que contabiliza os lírios

                                                        do campo

EU sou o competidor que luta consigo mesmo

 

                      EU desagrado a imprevidentes e economistas

 

EU sou o jornalista on-line que digere

                                                      desinformação

EU sou o turista que não passou do aeroporto

EU sou a economista que faliu a empresa

                                                        da família

EU sou a publicitária que não promove

                                    sequer a própria agência

 

                               EU irrito a vencidos e vencedores

 

EU sou o gótico místico que é especialista

                                      em tecnologia digital

EU sou o roqueiro doidão que ouve música

                                                          clássica

EU sou a dentista competente que é bruxinha

                                        nos fins-de-semana

EU sou o professor universitário que acende

                                          incenso à Deusa lunar

 

                             EU desagrado a iluministas e irracionalistas

 

EU a narcisista que procura no Outro o

                                                            Outro Eu

EU sou o perfeccionista que aceita os

                                            erros-e-acertos da vida

EU sou o egoísta que promete amor eterno

EU sou a idealista que engole os ‘tu deves’

                                                        do cotidiano

 

                               EU desagrado a Eu & Outros

 

 

 

 

Jul/11

 

 

Leonardo de Magalhaens

 




 

Agenda Literária 2012

 



Saudações Literárias,

Publique poema, miniconto, reflexão filosófica ou outro texto literário 
breve
numa agendinha de bolso que ficará junto a você e ao seu leitor o ano todo

Características da publicação
A publicação terá o mínimo de 160 páginas, formato A6, miolo P&B, capa 
colorida plastificada ou fosca, acabamento lateral em espiral.
Ficha catalográfica e ISBN.
Tiragem mínima de 3 mil exemplares.

Possibilidades de participação
Você pode enviar poema, miniconto, reflexão filosófica ou outro texto 
literário breve para ser publicado em meia página ou três quartos de página

=> Meia página - R$ 50,00 - (6 exemplares) (veja o modelo)
=> Poema de até 12 linhas (contando as linhas entre versos) ou um texto em 
prosa até 600 caracteres.

=> Três quartos de página - R$ 100,00 - (10 exemplares)
=> Poema de até 20 linhas (contando as linhas entre versos) ou um texto em 
prosa até 950 caracteres.

Inscrições até o dia 20 de agosto (valendo carimbo dos correios ou via 
internet)
Os autores podem enviar material para quantas páginas desejarem.
Não é concurso, nem haverá seleção, mas textos contendo xenofobobia, 
preconceito, discriminação ou similares que atentem contra a legislação 
vigente poderão ão ser publicados.

Dados para quitação de cota de participação
a) depósito no Banco do Brasil, ag. 3702-8 conta corrente 17278-2 Titular: 
Abilio Pacheco de Souza; ou
b) depósito no Banco Itaú Ag 1136 (sem dígito) Cc 40176-5 Titular: 
Deurilene Sousa; ou
c) através de cheque remetido dentro do envelope.

Outras informações:
- A participação corresponde à cessão de direitos autorais para a presente 
edição. Entretanto, os direitos permanecerão com os autores para futuras 
publicações. s autores são responsáveis por seus respectivos textos e caberá 
aos mesmos responder por plágio, publicação indevida, difamação, 
discriminação, preconceito. ou ão autoria da obra, isentando o organizador 
de crime de direito autoral.
- A página-modelo aqui apresenta encontra-se reduzida devido ao tamanho 
padrão do folder;
- Os autores participantes receberão por email arquivo em pdf com a prova 
da página para retificação ou liberação;
- Os organizadores farão a revisão ortográfica e gramatical, mas a revisão 
estilística, bem como a postagem são à parte;
- Email para contato: editoraliteracidade@uol.com.br; telefones para 
contato: (91) 8263-8344 // 8896-0379.

Caso deseje outras informações, acesse: 
http://literacidade.com.br/projetos/agenda-literaria/
Se preferir, escreva-nos.
Saudações literárias,

Editora LiteraCidade
Prefixo na Biblioteca Nacional: 64488
CNPJ: 12.757.748/0001-12
www.literacidade.com.br
Caixa Postal 5098 - Belém - PA - CEP 66645-972
Telefones: (91) 8263-8344 / 8896-0379

 



Portugal à brasileira

O escritor angolano radicado em Portugal, que já foi chamado por Saramago de 'tsunami literário', conta que o seu estilo vem da influência dos escritores brasileiros

Terciane Alves


A influência brasileira para o escritor angolano valter hugo mãe (assim, em minúsculas) é tamanha que ele parece viver um tipo de encantamento quando por aqui. As paisagens, pessoas e músicas que captou do país lhe são combustível para a criação. Talvez por isso escreva de improviso e é de forma espontânea que encanta o público de suas palestras.

A espontaneidade lhe conferiu simpatia calorosa em Paraty, na Festa Literária Internacional, mês passado. Autografou, numa tarde, 400 exemplares de A Máquina de Fazer Espanhóis (Cosac Naify), que lançou após uma das conferências mais elogiadas da Flip. hugo mãe cresceu em Portugal. É vocalista do grupo Governo, artista plástico e letrista. Visitou o Brasil pela primeira vez há dez anos, tutelado pelo escritor Marcelino Freire. Considerou aquele um momento de absorção cultural para ele, que cresceu vendo telenovelas, ouvindo música brasileira e fascinado por vizinhos brasileiros que enriqueciam seu imaginário.

Para José Saramago, é "tsunami literário": lê-lo era ver "um novo parto da língua". hugo mãe reconhece que experimentar a língua é aprendizado diário, com muito a ser feito. Nascido em Saurimo, em 1971, é advogado, pós-graduado em literatura portuguesa. Criou quatro romances e quatro infantis. Emociona-se com facilidade, demonstra curiosidade sobre tudo o que lhe contam, mas não perde o misto de ironia e gentileza. À Língua, conta da frustração dos autores africanos. E admitiu: o português do Brasil é a grande influência em sua obra.

O escritor angolano Valter Hugo Mãe radicado em Portugal, que já foi chamado por Saramago de 'tsunami literário', conta que o seu estilo vem da influência dos escritores brasileiros

Qual a questão que mais o intriga na variante brasileira da língua?
Além de me intrigar, aquilo que mais me instiga e agrada é o linguajar índio das línguas que existiam no Brasil. Você caminha pelas ruas e vê nomes indígenas por toda parte. E imagina quantos sítios indígenas haviam. O português brasileiro é mais permissivo, menos ortodoxo. Permite experimentações.

Como foi viver no Brasil?
O Brasil vem sendo uma marca na minha formação e uma experiência cultural desde menino, por causa de toda a informação que chega em Portugal por meio das telenovelas e da música. A literatura chega menos, chegam alguns clássicos. A telenovela chega todos os dias, e muitas. Quando conheci Marcelino Freire, eu me sentia uma esponja para absorver tudo - eu devia ter uns 28 anos na época. O Marcelino, imediatamente, me rodeou de outros nomes que apareceriam mais tarde, tornando-se referência, como Evandro Afonso Ferreira e Marcelo Mirisola. Eu o conheci (Marcelino) por acaso. Antes de vir ao Brasil, resolvi colocar na internet uma mensagem dizendo que gostava de conhecer escritores, pessoas ligadas aos livros. E o apelo deu muito certo.

De que maneira o Brasil influenciou a sua obra?
Tem um pouco que ver com esse fascínio do despudor da língua. Sendo português e escrevendo no português característico de Portugal, faço muita deturpação, às vezes embargação, mas faço muita experiência, tento experimentar um pouco. Dar muita atenção ao modo como as pessoas falam é algo muito típico dos escritores brasileiros. Faço sempre essa experiência e, certamente, essa é uma influência de escritores brasileiros.

Como vê a condição do autor lusófono na África?
É um sofrimento. Uma tristeza. A África é um continente encurralado. Há uma muralha muito difícil de transpor. Me parece que os escritores africanos são vistos como aquela cota obrigatória a que se deve cumprir para minorias, como em empregos e vagas nas universidades. Poucos conhecem e têm condições de ir ao pé dele (do continente africano) e ver a beleza da obra dele. O que acontece com alguns escritores africanos é que estão muito disponíveis a preencher essas cotas e outros ficam recônditos, porque a África é um continente recôndito. Muitos escritores não vivem na África, estão na Europa, em outros países. Falta abrir uma oportunidade de a África se mostrar a partir de onde ela está, sem precisar se deslocar. Há escritores escondidos em Portugal, como o Luandino Vieira. Há um mais novo chamado Vilmar, o Valdir Silva. O Valdir Silva escreve contos.

A literatura perdeu a relevância cultural?
A relevância dela é absoluta. Falo isso como escritor, de como ela é importante para a compreensão do mundo. E para perceber um assunto de forma mais profunda. De maneira muito lúdica, vejamos a importância que têm os livros para as crianças. É utópico pensar que o livro vai mudar o mundo. Mas se acontecer com uma pessoa, acredito que os livros podem ter uma relevância cultural muito grande. Estive na Ilha da Madeira para pesquisas sobre A Máquina de Fazer Espanhóis. E conheci o pessoal de um ateliê de arquitetura. Todo o ateliê estava a ler o livro, pois o dono o fez como tarefa, mas eles estavam a gostar muito. Estavam a projetar um abrigo. E a refazer o projeto, pois, no meu livro, desaconselho a criar abrigos para idosos perto de cemitérios. E o escritório estava revendo isso junto à construtora, mudando o local da obra. Compensa-me muito pensar que a história que conto tenha algo de extrema verdade. Algo capaz de interferir num projeto desta maneira.

Numa passagem do livro, esse personagem de 84 anos, o Silva, se refere a ele e ao Silva da Europa. Ser Silva representaria duas condições no mundo?
Sim, há essa condenação de os portugueses serem Silvas. Em Portugal, as silvas são aquele mato agreste, essa coisa que cresce selvagem e se alastra no lugar mais agreste, capaz de superar dificuldades. O mato é robusto e algo rasteiro. Nasce um povo robusto, capaz de superar dificuldades, mas ao mesmo tempo rasteiro. Ninguém cai nas silvas porque as silvas têm espinhos. Uma espécie de planta rasteira, agreste, que tem uma condição, uma oportunidade de sair da pequenez. Portugal é um país que desenvolve um sentimento de perda muito grande. Mesmo que não seja verdade, as pessoas têm a sensação de que estamos mais pobres de alguma coisa. Os Silvas são duas plantas rasteiras. Um sonhando com, mas sem oportunidade, uma coisa presa, muito infeliz com seus próprios remorsos.

"É utópico pensar que o livro vai mudar o mundo. Mas se acontecer com uma pessoa, acredito que os livros podem ter uma relevância cultural muito grande"

Me parece que entre os portugueses há um sentimento de alijamento em relação à Europa.
Acham que a Europa começa na Espanha. Isso aparece um pouco no meu primeiro romance. Quando era pequeno, minha mãe dizia que além das arvores estava a Espanha, para que não nos entrássemos mata adentro. O que era uma mentira terrível, pois a Espanha ficava a mais de 100 quilômetros. Achávamos que nosso país estava confinado àquela vila. Até que um dia alguém soltou um cavalo e havia algo na cabeça da pessoa que estava no cavalo que reluzia e achávamos que era um rei da Espanha e voltamos muito histéricos para casa, dizendo que o rei iria querer reaver as suas propriedades. Os portugueses costumam ter expectativa além da linha. Como se tivéssemos essa estranheza de não corresponder a nada mais da Europa. As pessoas (de Portugal) até falam: "Lá na Europa". Somos europeus, fomos criados europeus. Mas é uma coisa intrincada, como um labirinto de espinhos.

O Silva de 84 anos sai da depressão quando um amigo diz que o Esteves que está no abrigo é o do poema Tabacaria, de Pessoa. Ali começa a sentir o orgulho de sua condição portuguesa. É assim a alma lusitana, ter mais orgulho da autoimagem literária do que do concreto?
Ou da sua história. Os portugueses são muito céticos. Tudo é ironizado. Os colonizadores não só de Portugal, mas da Espanha, creio, são assim. Há uma violência contida com relação aos povos que encontra. E por isso ninguém tem essa ideia cega de glorificar uma coisa tão contraditória, tão ambígua quanto foram as descobertas (portuguesas). Mas há uma espécie de identidade que vem muito da arte, da literatura, da música. Durante os anos 80, sofreu-se muita retaliação. As gerações novas queriam muito desprezar o fado por conta desse sentimento triste e entristecedor, mas na verdade muito genuíno. Esse sentimento, sendo embora triste e entristecedor, vem muito de dentro de Portugal, ainda que queiramos ser de outro modo. Como se fosse impossível deixar de ser quem somos. Claro que há pessoas felizes, que dançam samba e sabem até dançar. Mas não há como fugir de certos sentimentos, como o fado faz parte, o Fernando Pessoa faz mais parte ou a maturidade do coletivo. O que sonho para o meu país é que as pessoas sejam mais crentes, que acreditem, sonhem mais. E sejam mais confiantes.

Para criar o personagem que vai para um abrigo, você acompanhou ou inseriu-se num abrigo?
Não. Trabalhei para me sentir um senhor de 84 anos. A primeira vez que ouvi falar do poema Tabacaria tinha uns 8 anos. E fiquei chocado quando a professora leu o trecho que fala de um homem sem metafísica. Achei que Fernando Pessoa foi mal criado com ele, mas guardei isso pra mim. Adoro Pessoa, mas nesse livro a arma de um crime, não à toa, é um livro. Pensei comigo, vou roubar esse personagem para devolver a metafísica a ele. A completude da vida se dá quando estamos apaziguados e o Silva redescobre um modo de viver sua terceiridade, algo que meu pai não viveu. As relações mais fortes são as que precisam que nos afastemos.

Alguns dizem que foi a crise econômica que motivou o romance, outros falam da morte de seu pai.
Não diria a crise, mas um acumular de tudo. Vou roubando um pouco de tudo o que leio sobre o que escrevi. Alguns fazem uma leitura mais política de meus livros e a usam para acusar a política; outros vão à esteira de pensar a terceiridade, pois, de fato, muitos da minha geração não terão ninguém para assegurá-los. E há a visão poética, de a amizade como um tipo de amor, mesmo não físico. De fato, penso que a família é quem escolhemos para sermos fiéis. O livro parte dessa ideia de pensar como seria a vida desse homem mais velho que eu. Sabia que ia ocupar o espaço do meu pai com um livro. Ele morreu aos 59 anos. A perspectiva da morte fez com que criasse um apaziguamento com o que ele é. Vivia a queixar-se de tudo e, quando soube que tinha uma doença grave, mudou, passou a cuidar melhor dele, da família, de mim.

 

Fonte: http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=12373
Portugal à brasileira | Revista Língua Portuguesa