EU me contradigo?
EU sou o bom aluno que odeia aulas
EU sou a iconoclasta com bons modos
EU sou o poeta que se incomoda com as
EU sou o escritor que prefere música
EU desagrado a editores e literatos
EU sou o músico que prefere o silêncio
EU sou a autora que detesta autógrafos
EU sou o bardo que só lê romances
EU sou o poeta boêmio que em casa
sábado à noite lê Rimbaud
EU desagrado a autores e leitores
EU sou o rebelde que não passa de nerd
EU sou a nerd que veste jeans e botina
EU sou o ateu que ouve heavy metal satânico
EU sou o metaleiro que ouve acid jazz
EU irrito porras-loucas e caretas
EU sou o erudito que odeia acadêmicos
EU sou o poeta marginal que faz mestrado
EU sou a agitadora cultural que detesta
EU sou o apresentador de auditório que
EU desagrado a apocalípticos e integrados
EU sou a libertina que prefere a solidão
EU sou o sádico que nutre amor platônico
EU sou o moralista que é suspeito de ato
EU sou a sexóloga que vive em abstinência
EU incomodo a pervertidos e puritanos
EU sou o adepto do sexo livre que é muito
EU sou a viciada que trabalha em campanha
EU sou a vegetariana que freqüenta churrascaria
EU sou a política xenófoba que dorme com
EU desagrado a gentios e judeus
EU sou o empreendedor liberal que é funcionário
EU sou a anarquista que estuda em universidade
EU sou a socialista que detesta o coletivo
EU sou o comunista que tem ações na Bolsa
EU desagrado a liberais e anarquistas
EU sou o materialista marxista que frequenta a
EU sou o sindicalista que toma uísque com o
EU sou a proletária que vota nas Elites
EU sou o republicano que adora casamentos
EU desagrado a Direitas e Esquerdas
EU sou o líder político que odeia multidões
EU sou o deputado que representa as próprias
EU sou o ficha-limpa que cobra propina
EU sou o político que não faz promessas
EU irrito a situação e a oposição
EU sou o pessimista que dá lição de moral
EU sou o paranóico que adora filme de terror
EU sou o budista que adora uma vida de agito
EU sou a estressada que é viciada em meditação
EU perturbo boêmios e quietistas
EU sou a missionária que duvida da Eternidade
EU sou a revolucionária que duvida do Proletariado
EU sou o fiscal da Receita que sonega impostos
EU sou o bispo que abençoa as notas de cem
E
EU sou o altruísta que nada tem de piedoso
EU sou a religiosa que nada tem de crédula
EU sou o beato que afaga um púbis infantil
Eu sou a médica piedosa que pratica abortos
EU irrito católicos e protestantes
EU sou o pacifista que estuda as guerras
EU sou a oficial que casou com um terrorista
EU sou o assassino que ama a vida
EU sou a doméstica que vive na porta da rua
EU desagrado a gregos e persas
EU sou o policial que negocia com traficante
EU sou o delegado que comete crime inafiançável
EU sou a juíza que desconhece o verbete ‘Justiça’
EU sou o motorista que desconhece o trânsito
EU ofendo santos e pecadores
EU sou o vampiro juvenil que freqüenta a praia
EU sou o solitário que freqüenta shoppings
EU sou a adolescente que se veste igual vovó
EU sou o vovô com camiseta e bermuda juvenil
EU desagrado a teens e aposentados
EU sou o machista que lê poesia lírica
femi
EU sou o marido exemplar que adora desfilar
EU sou a feminista que esqueceu que é fêmea
EU sou o homofóbico que comprou a revista
da transsexual
EU confundo gêneros e transgêneros
EU sou a vanguardista que ouve bandas
EU sou o saudosista que ouve rock psicodélico
EU sou a hippie pagã que dorme na escadaria
EU sou o nerd digital que adora RPG medieval
EU ofendo a futuristas e passadistas
EU sou a ecologista que nunca dá carona
EU sou a avarenta que distribui presentes
EU sou o contador que contabiliza os lírios
EU sou o competidor que luta consigo mesmo
EU desagrado a imprevidentes e economistas
EU sou o jornalista on-line que digere
EU sou o turista que não passou do aeroporto
EU sou a economista que faliu a empresa
EU sou a publicitária que não promove
sequer a própria agência
EU irrito a vencidos e vencedores
EU sou o gótico místico que é especialista
EU sou o roqueiro doidão que ouve música
EU sou a dentista competente que é bruxinha
EU sou o professor universitário que acende
EU desagrado a iluministas e irracionalistas
EU a narcisista que procura no Outro o
EU sou o perfeccionista que aceita os
EU sou o egoísta que promete amor eterno
EU sou a idealista que engole os ‘tu deves’
EU desagrado a Eu & Outros
Jul/11
Leonardo de Magalhaens
Saudações Literárias,
Publique poema, miniconto, reflexão filosófica ou outro texto literário
breve
numa agendinha de bolso que ficará junto a você e ao seu leitor o ano todo
Características da publicação
A publicação terá o mínimo de 160 páginas, formato A6, miolo P&B, capa
colorida plastificada ou fosca, acabamento lateral em espiral.
Ficha catalográfica e ISBN.
Tiragem mínima de 3 mil exemplares.
Possibilidades de participação
Você pode enviar poema, miniconto, reflexão filosófica ou outro texto
literário breve para ser publicado em meia página ou três quartos de página
=> Meia página - R$ 50,00 - (6 exemplares) (veja o modelo)
=> Poema de até 12 linhas (contando as linhas entre versos) ou um texto em
prosa até 600 caracteres.
=> Três quartos de página - R$ 100,00 - (10 exemplares)
=> Poema de até 20 linhas (contando as linhas entre versos) ou um texto em
prosa até 950 caracteres.
Inscrições até o dia 20 de agosto (valendo carimbo dos correios ou via
internet)
Os autores podem enviar material para quantas páginas desejarem.
Não é concurso, nem haverá seleção, mas textos contendo xenofobobia,
preconceito, discriminação ou similares que atentem contra a legislação
vigente poderão ão ser publicados.
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Abilio Pacheco de Souza; ou
b) depósito no Banco Itaú Ag 1136 (sem dígito) Cc 40176-5 Titular:
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c) através de cheque remetido dentro do envelope.
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edição. Entretanto, os direitos permanecerão com os autores para futuras
publicações. s autores são responsáveis por seus respectivos textos e caberá
aos mesmos responder por plágio, publicação indevida, difamação,
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Portugal à brasileira
O escritor angolano radicado em Portugal, que já foi chamado por Saramago de 'tsunami literário', conta que o seu estilo vem da influência dos escritores brasileiros | |
Terciane Alves A influência brasileira para o escritor angolano valter hugo mãe (assim, em minúsculas) é tamanha que ele parece viver um tipo de encantamento quando por aqui. As paisagens, pessoas e músicas que captou do país lhe são combustível para a criação. Talvez por isso escreva de improviso e é de forma espontânea que encanta o público de suas palestras. A espontaneidade lhe conferiu simpatia calorosa em Paraty, na Festa Literária Internacional, mês passado. Autografou, numa tarde, 400 exemplares de A Máquina de Fazer Espanhóis (Cosac Naify), que lançou após uma das conferências mais elogiadas da Flip. hugo mãe cresceu em Portugal. É vocalista do grupo Governo, artista plástico e letrista. Visitou o Brasil pela primeira vez há dez anos, tutelado pelo escritor Marcelino Freire. Considerou aquele um momento de absorção cultural para ele, que cresceu vendo telenovelas, ouvindo música brasileira e fascinado por vizinhos brasileiros que enriqueciam seu imaginário. Para José Saramago, é "tsunami literário": lê-lo era ver "um novo parto da língua". hugo mãe reconhece que experimentar a língua é aprendizado diário, com muito a ser feito. Nascido em Saurimo, em 1971, é advogado, pós-graduado em literatura portuguesa. Criou quatro romances e quatro infantis. Emociona-se com facilidade, demonstra curiosidade sobre tudo o que lhe contam, mas não perde o misto de ironia e gentileza. À Língua, conta da frustração dos autores africanos. E admitiu: o português do Brasil é a grande influência em sua obra. O escritor angolano Valter Hugo Mãe radicado em Portugal, que já foi chamado por Saramago de 'tsunami literário', conta que o seu estilo vem da influência dos escritores brasileiros
Qual a questão que mais o intriga na variante brasileira da língua? Além de me intrigar, aquilo que mais me instiga e agrada é o linguajar índio das línguas que existiam no Brasil. Você caminha pelas ruas e vê nomes indígenas por toda parte. E imagina quantos sítios indígenas haviam. O português brasileiro é mais permissivo, menos ortodoxo. Permite experimentações. Como foi viver no Brasil? O Brasil vem sendo uma marca na minha formação e uma experiência cultural desde menino, por causa de toda a informação que chega em Portugal por meio das telenovelas e da música. A literatura chega menos, chegam alguns clássicos. A telenovela chega todos os dias, e muitas. Quando conheci Marcelino Freire, eu me sentia uma esponja para absorver tudo - eu devia ter uns 28 anos na época. O Marcelino, imediatamente, me rodeou de outros nomes que apareceriam mais tarde, tornando-se referência, como Evandro Afonso Ferreira e Marcelo Mirisola. Eu o conheci (Marcelino) por acaso. Antes de vir ao Brasil, resolvi colocar na internet uma mensagem dizendo que gostava de conhecer escritores, pessoas ligadas aos livros. E o apelo deu muito certo. De que maneira o Brasil influenciou a sua obra? Tem um pouco que ver com esse fascínio do despudor da língua. Sendo português e escrevendo no português característico de Portugal, faço muita deturpação, às vezes embargação, mas faço muita experiência, tento experimentar um pouco. Dar muita atenção ao modo como as pessoas falam é algo muito típico dos escritores brasileiros. Faço sempre essa experiência e, certamente, essa é uma influência de escritores brasileiros. Como vê a condição do autor lusófono na África? É um sofrimento. Uma tristeza. A África é um continente encurralado. Há uma muralha muito difícil de transpor. Me parece que os escritores africanos são vistos como aquela cota obrigatória a que se deve cumprir para minorias, como em empregos e vagas nas universidades. Poucos conhecem e têm condições de ir ao pé dele (do continente africano) e ver a beleza da obra dele. O que acontece com alguns escritores africanos é que estão muito disponíveis a preencher essas cotas e outros ficam recônditos, porque a África é um continente recôndito. Muitos escritores não vivem na África, estão na Europa, em outros países. Falta abrir uma oportunidade de a África se mostrar a partir de onde ela está, sem precisar se deslocar. Há escritores escondidos em Portugal, como o Luandino Vieira. Há um mais novo chamado Vilmar, o Valdir Silva. O Valdir Silva escreve contos. A literatura perdeu a relevância cultural? A relevância dela é absoluta. Falo isso como escritor, de como ela é importante para a compreensão do mundo. E para perceber um assunto de forma mais profunda. De maneira muito lúdica, vejamos a importância que têm os livros para as crianças. É utópico pensar que o livro vai mudar o mundo. Mas se acontecer com uma pessoa, acredito que os livros podem ter uma relevância cultural muito grande. Estive na Ilha da Madeira para pesquisas sobre A Máquina de Fazer Espanhóis. E conheci o pessoal de um ateliê de arquitetura. Todo o ateliê estava a ler o livro, pois o dono o fez como tarefa, mas eles estavam a gostar muito. Estavam a projetar um abrigo. E a refazer o projeto, pois, no meu livro, desaconselho a criar abrigos para idosos perto de cemitérios. E o escritório estava revendo isso junto à construtora, mudando o local da obra. Compensa-me muito pensar que a história que conto tenha algo de extrema verdade. Algo capaz de interferir num projeto desta maneira. Numa passagem do livro, esse personagem de 84 anos, o Silva, se refere a ele e ao Silva da Europa. Ser Silva representaria duas condições no mundo? Sim, há essa condenação de os portugueses serem Silvas. Em Portugal, as silvas são aquele mato agreste, essa coisa que cresce selvagem e se alastra no lugar mais agreste, capaz de superar dificuldades. O mato é robusto e algo rasteiro. Nasce um povo robusto, capaz de superar dificuldades, mas ao mesmo tempo rasteiro. Ninguém cai nas silvas porque as silvas têm espinhos. Uma espécie de planta rasteira, agreste, que tem uma condição, uma oportunidade de sair da pequenez. Portugal é um país que desenvolve um sentimento de perda muito grande. Mesmo que não seja verdade, as pessoas têm a sensação de que estamos mais pobres de alguma coisa. Os Silvas são duas plantas rasteiras. Um sonhando com, mas sem oportunidade, uma coisa presa, muito infeliz com seus próprios remorsos. "É utópico pensar que o livro vai mudar o mundo. Mas se acontecer com uma pessoa, acredito que os livros podem ter uma relevância cultural muito grande"
Me parece que entre os portugueses há um sentimento de alijamento em relação à Europa. Acham que a Europa começa na Espanha. Isso aparece um pouco no meu primeiro romance. Quando era pequeno, minha mãe dizia que além das arvores estava a Espanha, para que não nos entrássemos mata adentro. O que era uma mentira terrível, pois a Espanha ficava a mais de 100 quilômetros. Achávamos que nosso país estava confinado àquela vila. Até que um dia alguém soltou um cavalo e havia algo na cabeça da pessoa que estava no cavalo que reluzia e achávamos que era um rei da Espanha e voltamos muito histéricos para casa, dizendo que o rei iria querer reaver as suas propriedades. Os portugueses costumam ter expectativa além da linha. Como se tivéssemos essa estranheza de não corresponder a nada mais da Europa. As pessoas (de Portugal) até falam: "Lá na Europa". Somos europeus, fomos criados europeus. Mas é uma coisa intrincada, como um labirinto de espinhos. O Silva de 84 anos sai da depressão quando um amigo diz que o Esteves que está no abrigo é o do poema Tabacaria, de Pessoa. Ali começa a sentir o orgulho de sua condição portuguesa. É assim a alma lusitana, ter mais orgulho da autoimagem literária do que do concreto? Ou da sua história. Os portugueses são muito céticos. Tudo é ironizado. Os colonizadores não só de Portugal, mas da Espanha, creio, são assim. Há uma violência contida com relação aos povos que encontra. E por isso ninguém tem essa ideia cega de glorificar uma coisa tão contraditória, tão ambígua quanto foram as descobertas (portuguesas). Mas há uma espécie de identidade que vem muito da arte, da literatura, da música. Durante os anos 80, sofreu-se muita retaliação. As gerações novas queriam muito desprezar o fado por conta desse sentimento triste e entristecedor, mas na verdade muito genuíno. Esse sentimento, sendo embora triste e entristecedor, vem muito de dentro de Portugal, ainda que queiramos ser de outro modo. Como se fosse impossível deixar de ser quem somos. Claro que há pessoas felizes, que dançam samba e sabem até dançar. Mas não há como fugir de certos sentimentos, como o fado faz parte, o Fernando Pessoa faz mais parte ou a maturidade do coletivo. O que sonho para o meu país é que as pessoas sejam mais crentes, que acreditem, sonhem mais. E sejam mais confiantes. Para criar o personagem que vai para um abrigo, você acompanhou ou inseriu-se num abrigo? Não. Trabalhei para me sentir um senhor de 84 anos. A primeira vez que ouvi falar do poema Tabacaria tinha uns 8 anos. E fiquei chocado quando a professora leu o trecho que fala de um homem sem metafísica. Achei que Fernando Pessoa foi mal criado com ele, mas guardei isso pra mim. Adoro Pessoa, mas nesse livro a arma de um crime, não à toa, é um livro. Pensei comigo, vou roubar esse personagem para devolver a metafísica a ele. A completude da vida se dá quando estamos apaziguados e o Silva redescobre um modo de viver sua terceiridade, algo que meu pai não viveu. As relações mais fortes são as que precisam que nos afastemos. Alguns dizem que foi a crise econômica que motivou o romance, outros falam da morte de seu pai. Não diria a crise, mas um acumular de tudo. Vou roubando um pouco de tudo o que leio sobre o que escrevi. Alguns fazem uma leitura mais política de meus livros e a usam para acusar a política; outros vão à esteira de pensar a terceiridade, pois, de fato, muitos da minha geração não terão ninguém para assegurá-los. E há a visão poética, de a amizade como um tipo de amor, mesmo não físico. De fato, penso que a família é quem escolhemos para sermos fiéis. O livro parte dessa ideia de pensar como seria a vida desse homem mais velho que eu. Sabia que ia ocupar o espaço do meu pai com um livro. Ele morreu aos 59 anos. A perspectiva da morte fez com que criasse um apaziguamento com o que ele é. Vivia a queixar-se de tudo e, quando soube que tinha uma doença grave, mudou, passou a cuidar melhor dele, da família, de mim. |